TRANSCRITO DA COLUNA DO ANCELMO GOES, EM O Globo:
25/12/2017 09:00
Luís Roberto Barroso, ministro do STF
Atendendo a um pedido da coluna, acionei minha bola de cristal para antecipar aos leitores os desígnios dos deuses para 2018. Porém, para meu desalento, ocorreu o mesmo problema que vem se repetindo há anos: a danada da bola só consegue enxergar o passado. Quando volta seus poderes mágicos para o futuro, o fiasco é total: tudo o que aparece é uma espessa camada de nuvens, entremeada de trevas. Assim, para não falhar no compromisso assumido, vou ter que fazer um voo visual, sem aparelhos, do qual se avistam três cenários.
O primeiro é a celebração dos trinta anos da Constituição de 1988 e as conquistas democráticas que ela proporcionou: estabilidade institucional (em um país que seguia a pior tradição latino-americana de quarteladas), estabilidade monetária (após anos de hiperinflação devastadora) e inclusão social (mais de 30 milhões de pessoas que deixaram a linha da pobreza). Em menos de uma geração, derrotamos a ditadura, a hiperinflação e a pobreza extrema. A corrupção também não é invencível.
Isso nos leva ao segundo cenário: o da continuidade da luta contra a corrupção. Temos que atender a imensa demanda por integridade, idealismo e patriotismo que hoje existe na sociedade brasileira. E esta é a energia que muda paradigmas e empurra a história. Será preciso continuar a enfrentar a reação dos que se supunham imunes e impunes, bem como a dos que não querem ficar honestos nem daqui para frente.
Por fim, 2018 será um ano eleitoral, do qual se espera que possa cicatrizar as feridas e ressentimentos que ficaram do impeachment. Precisamos adotar alguns denominadores comuns, independentemente de quem vença. Uma agenda patriótica que inclua responsabilidade fiscal, prioridade para a educação, probidade administrativa, choque de livre iniciativa e rede eficiente de proteção social para quem de fato precisa.
A fotografia do momento atual, de crise econômica, crise política e crise ética é desoladora. Mas o filme da democracia brasileira é bom. E a consciência cívica e social que conquistamos nos últimos tempos permitirá a refundação do Brasil. Os bons não podem desistir. Por isso, não importa o que esteja acontecendo à sua volta: faça o melhor papel que puder.