O irlandês Oscar Wilde, um dos mais populares dramaturgos na Londres da década de 1890, autor de clássicos da literatura como Salomé e Retrato de Dorian Grey, disse certa vez que as pessoas de nossos dias (referindo-se, evidentemente, ao século XIX), “sabem o preço de tudo e o valor de nada”. Como se verifica sem muita dificuldade pouco mudou desde então. Vivemos em um mundo capitalista, competitivo, onde tempo é dinheiro, onde os valores são trocados e as pessoas acabam perdendo seus princípios, rendendo-se ao ter em detrimento do ser. Estas reflexões me ocorrem diante da finitude deste que foi um dos piores anos da história brasileira e o advir de 2017, sobre o qual a nacionalidade deposita fortes expectativas de mudança.
A sociedade brasileira, que vem padecendo as consequências de uma crise política, econômica e moral sem precedentes, almeja ansiosamente livrar o Brasil das adversidades que abalaram seriamente suas instituições e a confiança do povo, sobretudo a partir de 2008. Anseia, ademais, por indicativos de correção de erros grosseiros de avaliação da conjuntura brasileira e mundial cometidos pelos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff. Motivados por dogmas ideológicos ultrapassados, enveredaram por caminhos tortuosos em busca de se manter no governo indefinidamente. O projeto, contudo, não dispunha de bases sólidas e naufragou ao tentar avaliar a realidade de hoje por padrões do passado. Mais ainda, não conseguiu esquivar-se das “pedras no meio do caminho”. Não levou em conta, por fim, que, segundo o ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso, em seu livro “A Soma e o Resto”, “ideias fixas, visões dogmáticas, bloqueiam o entendimento do novo”.
Nos governos do PT, o Brasil chegou a se render a uma concepção demagoga e popularesca de governo. Menosprezando soluções técnico-políticas estruturalmente coerentes e realísticas deixou-se conduzir por grupo político que utilizou “a indignação como arma para destruir as instituições”, segundo constata Fernando Henrique. De fato, o preço que a sociedade brasileira está pagando é extremamente alto, insuportável mesmo face a crueza dos 12 milhões de desempregados, da péssima qualidade do ensino, da saúde e da segurança pública; aos assaltos perpetrados contra Petrobras, BNDES, Caixa Econômica; da recessão, dos juros escorchantes, dos mais de 53% de inadimplência de consumidores, do descontrole das contas públicas, do déficit de R$ 172 bilhões contabilizado ao final do exercício de 2015.
No Amazonas, obrigatório se torna evoluir o debate com a sociedade sobre a fragilizada economia legada pelo projeto Zona Franca de Manaus, base 1967, em busca de soluções alternativas possíveis. Tornar prioritário trazer ao proscênio inteligências e lideranças capazes de conduzir e aprofundar discussões sobre o futuro deste Estado. Evitar que o debate se desloque para fora de nosso universo e se mantenha ajustado à cosmologia amazônica. Afinal, a responsabilidade pelo “mise-en-scéne” é toda nossa, não pode ser delegada a nenhuma outra instituição. A propósito, onde se encontram a Suframa, a Universidade, o Inpa, o CBA, a Embrapa, o próprio governo do Estado? Sobre estas instituições, aliadas às representações das classes empresariais, estudantis e operárias, vale salientar, efetivamente recai a responsabilidade maior quanto ao presente e o futuro desta terra.
Diante de tal cenário, inadiável reverter, em 2017, as adversidades herdadas da insaciabilidade do maior esquema de corrupção de que se tem notícia em nossa história e, desta forma, reformar/modernizar carcomidas e senis instituições e institutos (modelo político, lei trabalhista, previdência, sistema tributário, etc.) ainda incólumes. Desejo, pois, ardentemente que 2017 torne-se o ponto de inflexão desse quadro de adversidades e que o Brasil e o Amazonas consigam reinfundir em sua gente a confiança perdida em seu próprio futuro. Que assim seja. Feliz Ano Novo!