Presidente nacional do DEM, o deputado Rodrigo Maia (RJ) diz que a “prioridade” de seu partido para 2014 é o lançamento de um presidenciável próprio. Em entrevista ao blog, declarou: “DEM e PSDB devem construir os seus projetos em conjunto, mas em vias paralelas. Juntos no Congresso e nas eleições municipais de 2012, mas cada em condições de chegar a 2014 com candidatos próprios”.
Do Blog do Josias de Souza ( http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/ ) :
– Que tipo de oposição o DEM fará ao governo Dilma? O eleitor decidiu pela continuidade. Voto no Lula, não na Dilma. É o terceiro mandato do Lula por meio da Dilma. Legítimo. Entraremos no nono ano do governo Lula. É um governo velho. Por isso, a oposição não deve aguardar.
– Não pretendem conceder nem aquela trégua usual de cem dias? Não vejo razões. A Dilma prometeu 1 milhão de casas. Entregou 200 mil. Prometeu mais 2 milhões. Vamos cobrar 2,8 milhões de casas. O PAC registra execução de 40%. Vamos cobrar os outros 60%. Não se justifica esperar três meses. Lula disse que só fez um bom governo por causa da Dilma. Se é assim, ela vai tocar tudo já no dia 2 de janeiro.
– Lula chamou a oposição de raivosa. O que achou? Raivoso sempre foi o Lula. Na oposição, eles votaram contra tudo e contra todos. Rejeitaram de Tancredo Neves ao Plano Real. No governo, Lula partiu para cima dos principais líderes da oposição. Não para derrotá-los democraticamente, mas para agredi-los. Disse que iria extirpar o DEM.
– Em 2014, o DEM vai se coligar novamente com o PSDB? Nossa prioridade é dar sequencia à renovação do partido, iniciada em 2007. O DEM deve ter a coragem de expor com clareza as teses que defende, solidificando-se como legenda de centro-direita. Aprofundaremos nossas posições em temas como saúde, segurança pública e redução da carga tributária.
– E quanto a 2014? Acho que o partido tem nomes para sustentar uma candidatura própria. Essa tem que ser a nossa prioridade. Nas últimas eleições, faltou à oposição, no segundo turno, a possibilidade de agregar candidatos do seu campo. Fomos buscar eleitores de candidatos com o DNA petista. É o caso da Marina Silva, do Cristovam Buarque e da Heloisa Helena. Em 2010, o Lula estava tão forte que, separados, teríamos dificuldade inclusive de produzir o segundo turno. Acertamos. Para 2014, DEM e PSDB devem construir os seus projetos em conjunto, mas em vias paralelas. Juntos no Congresso e nas eleições municipais de 2012, mas cada em condições de chegar a 2014 com candidatos próprios.
– Poderia citar um quadro do DEM em condições de ser presidenciável? Há muitos. Para citar apenas alguns: os senadores Demóstenes Torres, Agripino Maia e Kátia Abreu, além do prefeito Gilberto Kassab. Não precisamos entrar numa eleição só com o objetivo de ganhar eleitoralmente. A Marina sabia que não seria vencedora. Mas teve uma grande vitória política. Temos de nos posicionar para ter um espaço de liderança, não de liderado do PSDB. Podemos representar algo como 20% do eleitorado brasileiro.
– José Serra ou Aécio Neves? O Serra, pela energia que mostrou no segundo turno, tem muito a agregar com a sua experiência. Não se pode negar que o nome que saiu mais forte desse processo foi o de Aécio Neves, um líder que nasce naturalmente. Isso não significa que o PSDB tenha apenas um nome nem que o DEM tenha de abdicar do projeto de candidatura própria.
– Na hipótese de não vingar a candidatura própria, diria que Aécio agrega mais? O nome do Aécio agrega o DEM. Se é mais, não sei. Não posso negar que Aécio tem influência em grandes lideranças do nosso partido. Isso não signfica que temos de abrir mão, desde já, do nosso projeto.
– Que erros a oposição cometeu na campanha presidencial? A avaliação recorde do presidente Lula pesou mais do que qualquer erro ou acerto da oposição.
– Não houve erros? Não dá para analisar esse processo apenas pela eleição. O grande erro da oposição, nos oito anos de mandato de Lula, talvez tenha sido a decisão de deixar o Lula sangrar no primeiro mandato.
– Refere-se à crise do mensalão? Exatamente.
– Acha que deveria ter sido requerido o impeachment? Creio que o Lula não seria impedido, mas teríamos cumprido nosso papel constitucional se tivéssemos encaminhado o pedido.
– Havia elementos que justificassem? Sem dúvida. Havia uma declaração do Duda Mendonça, com provas, de que o PT tinha feito pagamentos no exterior. Caberia à gente cumprir o nosso papel, independentemente do resultado.
– A quem se deve a não formalização do pedido de impeachment? Quem defendeu a tese e liderou o processo foi o presidente Fernando Henrique. Mas todos aceitaram. Portanto, foi um erro coletivo. De outra parte, acertamos no bloqueio à tese do terceiro mandato para o Lula e no fim da CPMF.
– Acha mesmo que Lula desejou o terceiro mandato? Tenho convicção.
– De onde vem a convicção? Vem dos movimentos de lideranças do governo e dos ensaios feitos por pessoas muito próximas ao presidente. Ele foi obrigado a desmentir no momento em que sentiu que não haveria suporte no Senado para a aventura.
– Sobre a CPMF, dois governadores tucanos –de Alagoas e Minas—, pregam a ressurreição do tributo. O que acha? Acho que cometem um erro. Somos radicalmente contra. Na eleição, todos evitaram tratar desse tema porque as pesquisas mostravam que o excesso de tributos era o item em que Lula obtinha a pior avaliação. Pior do que na saúde e na segurança pública. Devemos respeitar o eleitor. É preciso reduzir os impostos.
– Foi um erro não assumir claramente a defesa do legado de FHC? Não se trata de defender o Fernando Henrique, mas as reformas que nós ajudamos a aprovar e que significaram grandes avanços para o Brasil. Não ter defendido isso desde o primeiro dia foi um erro. Quem pode ser contra a privatização das telefônicas, que o Serra, aliás, defendeu com tranquilidade no segundo turno? Nosso partido não teria nenhuma dificuldade de fazer essa defesa.
– A que atribui a hesitação, que vem de outras eleições? Talvez à origem do PSDB. Fernando Henrique teve a sabedoria de, sendo um político vindo da esquerda, governar com teses mais à direita. O PSDB ainda se enxerga como legenda de centro-esquerda. O eleitor vê o partido como de centro-direita.
– Isso foi aferido em pesquisa? Sim. De zero a dez, sendo zero mais à esquerda, cinco no centro e dez mais à direita, o PSDB é visto no número seis, próximo do DEM. O PSDB talvez ainda se veja no número quatro, sem compreender que, pelo que foi o governo Fernando Henrique, ele é visto pela sociedade no número seis. Nesse aspecto o Fernando Henrique tem razão. Quando você não defende sua própria história, não tem capacidade de se projetar para o futuro. A base de tudo é o que já foi realizado. E nós realizamos muito. O Plano Real elegeu e reelegeu o Fernando Henrique. É só lembrar como era o Brasil até 1993. O Lula aproveitou tudo. É preciso vriar essa página.
– Não acha a campanha da oposição foi errática, próxima do Lula no começo e mais assertiva no final? É fácil falar depois do resultado. Todos nós projetávamos a Dilma com 30%, 35%. No meio da eleição, ela despontava com 60% dos votos válidos. Então, é fácil agora fazer análise de erros depois do acontecido. No meio do terremoto, é mais difícil. A perspectiva era de derrota no primeiro turno, o que gera desorganização de um lado e solidez do outro. Em cima daquele quadro, os erros foram menores do que os acertos. O peso do Lula desequilibrou o jogo.