NO DISCURSO ANUAL “Estado da União”, no Congresso, todo final de janeiro, o presidente Obama optou por focalizar a questão política. O alvo foi a oposição republicana.
A surpresa foi Obama utilizar o velho discurso de culpar a oposição. O que ele quer é que a oposição não faça oposição. Ao igualar seu governo aos interesses do país, caminha na mesma trilha de governos autoritários. Só em situações de guerra oposição e governo se fundem. O eleitor, ao votar, elege uns para governar e outros para fiscalizar e contrastar. Os eleitores não pensam todos de forma igual.
Obama foi eleito com 53% dos votos, contra 47% de seu opositor, e diferenciou-se radicalmente dos republicanos.
Obama afirmou no “Estado da União”: “O que é frustrante para o povo americano é uma “Washington” onde todo dia é dia de eleição.
Não podemos estar sempre em campanha, com o único propósito de ver quem pode obter mais manchetes constrangedoras sobre seu rival, na crença de que, se você perde, eu ganho”. E mais: “Não se pode pensar que dizer algo do outro grupo, por mais falso que seja, faz parte do jogo. Mas esse tipo de politicagem é precisamente o que fez com que os partidos tenham se afastado dos cidadãos. Pior ainda, está semeando mais divisões entre nossos cidadãos e mais desconfiança no governo”. Prometeu e compareceu à reunião dos congressistas republicanos no dia seguinte, propondo o mesmo.
O regime democrático não tem a mesma dinâmica decisória de uma empresa, onde seus diretores têm filosofia convergente. A política é um jogo estratégico de muito maior complexidade, onde os atores são múltiplos e o ator-foco (eleitor) quer saber pouco dela fora das eleições. Obama abriu o encontro dizendo: “Eu não sou um ideólogo. Se vocês sabem como podemos fazer de maneira melhor e de forma mais barata, o faremos”. “Se me mostram propostas que experts independentes possam respaldar como favoráveis para a reforma que necessitamos, podem estar seguros de que eu vou incluí-las”. Só “esqueceu” de dizer aos republicanos com que critério esses experts serão escolhidos, já que eles não têm por que pensar da mesma forma.
No “Estado da União”, Obama retomou uma surrada receita da antipolítica: “Quanto mais vezes os especialistas das tertúlias de TV reduzem os debates sérios a discussões estúpidas e as grandes questões a frases de efeito, mais se afastam dos nossos cidadãos. Não admira que haja tanto cinismo. Não admira que haja tanta decepção”.
Obama, ao completar um ano de governo, deixou dúvidas sobre se se sente encurralado ou se falou para o eleitor, qualificando-se, ao desqualificar a política, num ranço autoritário.