Escrevo este artigo dentro do avião no céu entre São Paulo de Olivença e Atalaia do Norte na caravana que faço junto com o Serafim Correa, Marcelo Serafim e Elias Emanuel.
Impossível em palavras expressar a dor, o sofrimento e o desamparo estampado nos olhos das pessoas que encontramos pelo caminho, mas farei um pequeno relato do que mais me tocou.
Caapiranga. O Prefeito mora em Manacapuru e o “Lixão” contrasta com sua bela e enorme fazenda.
Anamã armazena seu lixo em um flutuante em frente à cidade, por falta de política do Estado para a destinação do lixo nos municípios.
Codajás é o cenário de um desastre. Ruas esburacadas e lixo por todo canto são apenas os problemas visíveis de uma população em desespero.
Uarini recebe seus visitantes com todo o esgoto da cidade sendo jogado direto no rio.
Alvarães. A breve visita foi tempo suficiente para ver uma canoa com mais de 20 pessoas dentro, muitas delas crianças, a demonstrar a falta de alternativas seguras de transporte para nossos ribeirinhos.
Maraã. Uma movelaria que produzia 20 camas/mês, desde novembro não conseguiu produzir nenhuma, por falta de energia. A lixeira fica na cabeceira da pista do aeroporto nunca concluído. Não tem um canal de TV sequer.
Japurá. Um hospital há mais de cinco anos em construção e o mercado municipal fechado, ironicamente dividindo um prédio com o Idam.
Jutaí está à beira de um desastre. Boa parte do barranco em frente à cidade caiu, levando uma rua e chegando próximo à estação de geração de energia.
Fonte Boa é uma cidade devastada no corpo e na alma. Ruas esburacadas e funcionalismo com salários atrasados há 4 meses, são apenas as coisas mais urgentes.
Tonantins não tem água encanada, apesar de um vistoso e imenso reservatório construído, mas que nunca viu uma gota sequer.
Amaturá é o espelho da dedicação dos freis capuchinhos de presença centenária na cidade. A bela e imponente Escola São Cristovão simboliza um mínimo de dignidade oferecida aos cidadãos.
São Paulo de Olivença é um fio de esperança. Cidade limpa, sem buracos, salários do funcionalismo em dia e um Prefeito cheio de boa vontade.
Atalaia do Norte, Benjamin Constant e Tabatinga vivem as conseqüências de uma lei absurda e estúpida do senador Tião Viana (PT/AC) que, como se fosse possível mudar uma lei da natureza, mudou o fuso horário dessas cidades, fazendo crianças chegarem à escola antes do dia amanhecer.
Apensar de tudo, fica a boa lembrança do cenário maravilhoso da viagem por esse mundão que é a Amazônia e a certeza de um povo honesto, valente, capaz de resistir de forma digna às mais indignas condições de vida. Um povo que um dia levantar-se-á contra a tirania e a opressão a que estão submetidos hoje.
Marcelo Ramos é advogado e vereador em Manaus pelo PSB. www.vereadormarceloramos.com.br