Uma figura anônima está se tornando lendária, em meio ao recente boom de preservação ambiental, por conta da imensa contribuição à causa oferecida pelo seu modo de vida. Trata-se do caboclo amazônida. Vivendo em lugares ermos, distante geográfica e financeiramente do conforto da vida moderna, pertence a um grupo étnico que aprendeu como ninguém a lidar com os estoques da floresta e dos rios, sem sequer se preocupar em armazenar para o dia de amanhã.
Esse personagem, para mim e todos os homens de boa vontade, é uma figura muito próximo de sagrada, merecedora de carinho e reconhecimento.
Fui surpreendido, esta semana, com a notícia, veiculada no Jornal Nacional, da Rede Globo, de que um caboclo havia sido multado por fiscal do Ibama, em R$ 800, nas cercanias de Tabatinga. Por quê? Atacado por uma cobra sucuri das grandes, vendo sua vida ameaçada, ele sacou a faca e conseguiu matá-la. O fiscal soube e o multou.
Estou pedindo ao Ibama que apure o fato. Levei o caso ao ministro Carlos Minc. Disse-lhe que sou ambientalista, mas alguém com esse espírito, que leva o Amazonas e a própria estrutura de combate aos crimes ambientais a se transformar em motivo de chacota na imprensa nacional, não tem discernimento para ocupar esse cargo no funcionalismo público.
Levantei a questão no Senado. Manifestei minha revolta com o gesto insano, injusto, autoritário, desproporcional. O correto então seria que o homem morresse, para poupar a família de uma multa que acarreta em dívida como essa? A vida humana não conta entre as que devem ser preservadas? Muitas vezes, nem boi, onça, anta ou jacaré-açu consegue desvencilhar-se de uma sucuri e esse jovem merece honras, jamais multa, por ter conseguido.
Acabei despertando longo debate sobre meio ambiente na Casa. Meu colega amazonense Jefferson Praia (PDT) disse-me que os fiscais do Ibama são odiados no interior por posturas como essa. Isso é muito grave. O órgão tem papel fundamental na preservação da Amazônia e não pode transformá-lo numa razão de confronto com o herói fundamental da batalha, que é o caboclo.
Cristovam Buarque (PDT-DF), assinalou que “esse fundamentalismo ajuda a derrotar a filosofia da defesa do equilíbrio ambiental”. “Ridiculariza a causa”, disse eu. “Sim, desmoraliza a causa”, concordou Cristovam.
José Agripino (RN-líder do DEM), Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) e Rosalba Ciarlini (DEM-RN) recorreram a temas como a proteção de aves, no Rio Grande do Norte, a importância da Zona Franca de Manaus para a proteção florestal, as queimadas na Amazônia, a próxima reunião ambientalista de Copenhague, o efeito estufa, o pré-sal, os créditos de carbono e outros, a partir de meu pronunciamento.
A Amazônia tem papel central na questão ambiental. O Brasil está aprendendo a lidar com a região. A Nação poderia, longe de punir o caboclo, estudar mais sobre o modo de vida dele e a partir daí retirar as lições que certamente acelerariam esse processo.
Minha solidariedade ao jovem vencedor do confronto hercúleo com a sucuri. Sua história certamente será lembrada pela posteridade. Tanto pelo heroísmo, quanto pela insanidade da multa que recebeu.