Interrompi, esta semana, o que seria um processo corriqueiro de empréstimo do governo brasileiro para Moçambique, no valor de R$ 13,6 milhões, na Comissão de Constituição e Justiça. É justo oferecer tal ajuda humanitária. Meu gesto, porém, foi para chamar a atenção para a situação de descalabro e absoluto abandono do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), em Manaus.
Falei com o Ministro Temporão, da Saúde, e com o Ministro Fernando Haddad, da Educação. Expliquei tudo. Haddad disse-me que cuida da parte de pessoal, mas os recursos são com Temporão. Este anuncia acréscimo de R$ 300 milhões para os hospitais universitários e me garantiu que o HUGV terá prioridade.
Não se trata de hospital qualquer. É uma fábrica de médicos. É a melhor escola de médicos da Região Norte e está sem meios para funcionar.
Fui monitor do Professor José Maria Nunes Pereira, na Faculdade Cândido Mendes, e fiz todo o curso de Sociologia Política Africana. E também, na PUC-RJ, como uma das cadeiras do curso de Sociologia, que lá não concluí, cursei Sociologia Política Africana, matéria ministrada pelo próprio José Maria.
Sabemos que, de lá para cá, a realidade social daquele povo mudou muito pouco e não sou contra o Brasil, podendo, prestar auxílio a Moçambique. Mas considero que não tem cabimento fazer isso antes de resolver a situação do HUGV. E não tem sentido nós vermos a saúde em situação tão grave no País e fingirmos que está tudo bem, que nós podemos, então, fazer o papel do país rico, benemerente.
Chamei atenção dos dois Ministros para o fato de que não tem a menor graça se fazer esse gesto nobre, que eu apoio e que aplaudo, na direção do povo sofrido de Moçambique, e se deixar fechar o HUGV, em Manaus, ou, no Município do Careiro Castanho, não ter sequer uma ambulância.
E o Amazonas tem outros problemas.
Chamo a atenção do Ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, para o drama do povo de Envira, no Amazonas. O Prefeito Rômulo Mattos (PPS) enfrenta há 30 dias, com seu povo, um racionamento de energia – o que não é incomum em nosso interior. Houve quatro ou cinco blecautes completos e há apagão dos telefones. Para se comunicar com meu gabinete, o Prefeito Rômulo teve que fretar um avião e ir até Porto Velho, em Rondônia, para telefonar, porque o rio está muito seco e não se chega lá pelos barcos de recreio. Isso parte o coração.
Envira é um Município empobrecido pela perda de território para o Acre, o que levou parte da receita, embora continue atendendo praticamente toda a população de antes, que continua se considerando amazonense. Não se vê por lá implantação correta, nem justa, de Programa Luz para Todos nenhum. Esse programa é um jargão publicitário. Não funciona.
Em Eirunepé, o Prefeito Dissica Tomaz também passa por momentos difíceis com a questão da energia.
O Brasil é um País cheio de mazelas sociais graves. Enfrentando-as, como décima economia do mundo, não vejo por que não dar uma ajuda pequena, que, com certeza, será muito boa para o povo de Moçambique, que abraço fraternalmente, até por, modéstia à parte, conhecer bastante da sua história.