Tive a honra de abrir, dias atrás, no Senado, a 3ª Semana da Visão. Vi-me, de repente, num turbilhão de exemplos de vida, luta, resistência, coragem e sucesso, diante de limitações que dobrariam muitos de nós, ditos “normais”. Lembrei, de imediato, do exemplo querido da Associação de Amigos do Autista no Amazonas (AMAM-AM), cujos membros representam o que há de mais extremo em abnegação. Confesso minha dificuldade, depois de tudo que ouvi e vi, em aceitar o termo “deficiente”, com a profusão de exemplos de pessoas com limitações, que, com garra e dedicação, evitam que se transformem em deficiência.
Breno Viola, portador da Síndrome de Down, pesa pouco mais de 50 quilos e, excelente judoca, vence sempre os torneios contra lutadores com o mesmo problema. E já derrotou adversários ditos normais.
A jornalista Larissa Jansen, 30, que me presenteou com exemplar do livro, de sua autoria, “Diário de um transplante ósseo – na real, dois”, desde os sete sofre de uma patologia chamada artrite idiopática juvenil. Não obstante, fez Jornalismo na UnB, ajudou a implantar o jornalismo na primeira rádio do Exército, em Brasília, a Verde Oliva FM, foi editora da Voz do Brasil e hoje é funcionária da Justiça Federal.
Deparo-me com um samurai brasileiro, o judoca cego Antonio Tenório. Tetracampeão paraolímpico e tetracampeão mundial paraolímpico, ele se está tornando simplesmente invencível. Desde Atlanta/1996, só deu ele.
Aurélio Miguel, ganhador da medalha de ouro, na Olimpíada de Seul/1988, treinou com Tenório, já que ambos são meio-pesado. Levou a maior dureza. Aprendeu a intuir golpes, lição valiosa para suas conquistas consagradoras.
Conversei sobre Tenório, no Senado, com José Mário Tranquilini, várias vezes campeão brasileiro de judô, peso-pesado, que levara seus alunos, oriundos de uma periferia pobre de Brasília, para fazer demonstração na abertura da Semana. Afinal, segundo Tranquilini, seus alunos sofrem de “deficiência social”. Concordamos como seria bom para a garotada experimentar combate com essa lenda viva.
Tenório ficou cego por causa dos gases do estacionamento subterrâneo de um shopping, em São Paulo, onde era segurança, e continuou a treinar judô, impávido, até obter a consagração atual, cujo limite no tempo ainda é desconhecido. Ninguém dizia que, após o ouro em Atenas/2004, machucado no joelho, conseguiria algo em Pequim/2008, mas foi novamente para o alto do pódio.
Poderia citar muitos outros casos. Visito com frequência a Associação dos Pais e Amigos do Excepcional (APAE), em Manaus, e me impressiono particularmente com as habilidades dos portadores de Síndrome de Down.
O prefeito de Manicoré, Nena, como é politicamente conhecido, foi vítima de atentado a bala, há alguns meses, e ficou parcialmente sem movimento. Foi tratar-se no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, e, embora ainda em cadeira de rodas, já se tornou autossuficiente, volta em breve à Prefeitura e vai adaptar seu carro para dirigir pelas ruas de sua cidade.
Esses e outros milhares têm limitações, mas não são deficientes. Neles está um traço de coragem para a sociedade inteira mirar, com apoio, respeito e admiração.