A julgar pelas notícias de hoje vindas de Brasília, é possível que tenha ocorrido um acordo entre Sarney e a oposição. As bases desse acordo seriam: a) a oposição alivia o tiroteio contra Sarney; b) Sarney viabiliza a instalação da CPI da Petrobrás.
Até o momento não é possível saber quem é o sujeito oculto por trás da operação de detonação de liderança política de Sarney. Nossa primeira especulação inclinou-se para identificar em Lula a origem do bombardeio contra o presidente do Senado (ver artigo “Lula detona Sarney para controlar o Senado e submeter o PMDB).
No entanto, considerando-se o poder e influência de Sarney sobre estruturas políticas e máquinas eleitorais importantes no nordeste, não seria despropositado identificar em Serra a origem dos interesses em debilitar um importante apoiador de Dilma no tabuleiro eleitoral de 2010.
A virtual candidatura de Ciro Gomes ao governo de São Paulo é uma jogada de Lula para tirar votos de Serra e do candidato do PSDB ao Palácio dos Bandeirantes. A candidatura de Itamar pelo PPS ao governo de MG cheira a jogada de Serra para debilitar a penetração de Dilma e do candidato do Planalto ao Palácio Tiradentes no mais estratégico dos colégios eleitorais do país.
Se, portanto, for certo que Lula e o PT tem interesse em debilitar Sarney pelas razões já expostas no artigo antes referido; não é errado constatar que Serra também tem interesse em ver Sarney debilitado, pelas razões também já referidas.
O certo é que há, em curso, uma evidente operação política de natureza estratégica articulada contra Sarney. Alguém investigou a vida do presidente do Senado e suas relações obscuras com a quadrilha que operava o assalto aos cofres dessa Casa Legislativa, e alimentou a imprensa, de forma sistemática e homeopática, por semanas a fio, com as informações de que dispunha (e ainda dispõe?).
Para efeito prático, é a oposição quem mais está lucrando com o resultado da jogada. Por quê? O PT se dividiu. Lula se viu obrigado a socorrer Sarney sob ameaça de perder um aliado que manda no Senado e o apoio à Dilma nos feudos do último dos senhores feudais do Brasil patrimonialista. E, finalmente, a se confirmarem as notícias de hoje, para tirar o senador Arthur Virgílio do seu pé, Sarney viabilizaria a instalação da CPI da Petrobrás.
Serra precisa da CPI da Petrobrás para botar Lula na defensiva e para atingir a imagem e os cofres da campanha de Dilma. Como ex-ministra de Minas e Energia, Dilma teve a Petrobrás sob seu controle e poderia ter que explicar o inexplicável sob os holofotes da mídia. E, tudo indica, é pelos dutos dessa estatal que o PT está abastecendo de combustível sua máquina política composta de uma rede de ONGs “sociais e culturais” patrocinadas pelo contribuinte. Tendo sido governo, certamente o PSDB e o DEM devem saber onde atirar.
Debilitado, Sarney precisa do “carinho” de Lula para sobreviver e se recompor. Só Lula pode devolver a Sarney parte do poder que perdeu com o desgaste a que foi exposto por semanas seguidas de tiroteio. Como Lula tem interesse num Sarney fraco, num Senado submisso e no apoio mais barato do PMDB à Dilma, nada melhor, sob o ponto de vista de Sarney, que a CPI da Petrobrás como moeda de troca para arrancar Lula o combustível de que precisa.