O mundo precisa de um novo paradigma de desenvolvimento que compatibilize as demandas de ordem econômica com as de ordem ecológica. No campo econômico, é necessário promover a inclusão social de amplas massas, hoje desprovidas de condições mínimas de existência, e realizar a convergência dos níveis de riqueza dos países pobres e emergentes com os níveis apresentados pelos países ricos; no campo ecológico, devemos restringir os fatores que produzem o aquecimento global e nos adaptar às novas condições climáticas.
O paradigma atual opõe economia a ecologia. Sem dúvida, as vitórias econômicas, obtidas ao longo da história foram notáveis. A capacidade crescente de produzir riqueza viabilizou um aumento fantástico da população humana, sobretudo a partir da Revolução. Assim, do início do Neolítico, há cerca de 10.000 anos, até 1830, a população humana total passou de 10 milhões para 1 bilhão de pessoas; ou seja, em pouco menos de 12 mil anos, o contingente humano ampliou-se em 990 milhões de indivíduos. Por sua vez, de 1830 até os dias atuais, a população humana total passou de 1 bilhão para 6,6 bilhões de indivíduos; ou seja, em quase 180 anos, o contingente humano ampliou-se em 5,6 bilhões de indivíduos.
Por outro lado, as derrotas ecológicas não foram menos expressivas. No paradigma atual, o que agrada aos seres humanos degrada o meio ambiente; a construção da sociedade corresponde à destruição da natureza; o enriquecimento econômico redunda em empobrecimento ambiental; a expansão da população humana resulta em extinção ou redução das populações de inúmeras espécies vegetais e animais; os cuidados com o presente inviabilizam o futuro.
O novo paradigma econômico-ecológico pressupõe mudanças fundamentais: a estabilização da população mundial em patamares pouco superiores aos atuais; o aumento da renda per capita nos países pobres e emergentes em ritmos mais acelerados que o dos países desenvolvidos; a mudança da atual base tecnológica dos sistemas produtivos em direção a uma base tecnológica sustentável, a manutenção das florestas, além do aumento da importância específica da economia de serviços e bens sem peso.
A implementação desse novo paradigma, por ora batizado de Green New Deal (Novo Acordo Verde), já começou. Iniciativas de vulto estão em curso, nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, e envolvem investimentos públicos, compras governamentais, incentivos fiscais, subvenções e investimentos privados. Sua base são infraestruturas e fontes limpas, inovadoras, eficientes em recursos naturais e de baixo carbono.
Da mesma forma que o paradigma que ora se esgota teve seus líderes, a princípio a Inglaterra e posteriormente os Estados Unidos, o novo desenvolvimento terá seus países líderes, e o Brasil pode ser um deles.
Já temos uma experiência bem sucedida na produção de biocombustíveis e temos em nosso território ecossistemas vitais para o país e todo o planeta, como a Floresta Amazônica e o Cerrado, cuja destruição temos imediatamente que reverter. Mas nossos desafios não param por aí.
Não devemos nos restringir ao enfrentamento de curto prazo da crise atual. A transformação da base tecnológica da economia brasileira, rumo a uma economia ecologicamente correta, deve ser nossa resposta de longo prazo à recessão e ao aquecimento global.
A inclusão social será favorecida pelo boom de empregos a ser gerado pela indústria de energias renováveis, mais intensiva em mão de obra que a de petróleo e do gás. Por seu turno, as perspectivas auspiciosas de imensas reservas de petróleo no pré-sal, que devem ser garantidas como bem da União, não podem nos desviar da dramática necessidade de investimento em energias renováveis. Num futuro não muito distante, a importância do petróleo declinará, até ceder de vez a cena para outras fontes de energias.
O sucesso da implementação do Green New Deal dependerá de concertação mundial. Vivemos, pela primeira vez, em uma autêntica aldeia global, sob todos os sentidos, não somente no sentido pensado por McLuhan, que anteviu a conexão mundial propiciada pelas tecnologias de comunicação. As decisões econômicas tomadas por cada país repercutem sobre todo o planeta. Nesse sentido, a solidariedade emerge como valor supremo e incontornável.
Em 22 de abril, comemorou-se o Dia da Terra. A opção pelo crescimento econômico ambientalmente sustentável é certamente a melhor homenagem a ser prestada ao nosso planeta, que, com toda a justiça, às vezes chamamos de Mãe.