Dia 23 de junho passado o presidente Lula declarou que prefere dar dinheiro à população do que conceder benefícios às empresas. Admirável! Mais do que um poço de bondade, Lula é um craque em comunicação popular e domina como ninguém a arte de manipular o senso comum para iludir os incautos.
Por trás da retórica esperta do presidente – que recuperou seus índices de popularidade apesar do impacto da crise sobre o bolso da população -, está, de fato, a estratégia de marketing do governo para preparar a opinião pública para a elevação dos impostos. O governo, a contragosto de sua ideologia, se viu forçado a reduzir impostos para incentivar as vendas. Como se viu, os preços dos produtos beneficiados com a redução de impostos caíram expressivamente.
Com isso, o governo petista, que gosta do nosso dinheiro como ninguém, se meteu numa encalacrada. Mas, essa encalacrada é política e não fiscal, como pretende sugerir a retórica oficial. O povo brasileiro – que acha que só paga impostos quando estes são cobrados em “carnê” (IRPF, IPTU e IPVA) -, percebeu, em parte, o tamanho da mordida que o governo dá no nosso bolso cada vez que fazemos compras.
Desde então os marqueteiros do governo estão fazendo malabarismos para descobrir como Lula pode trazer as alíquotas dos impostos e contribuições reduzidas para os patamares anteriores, sem que, com isso, o presidente perca a popularidade robusta que ostenta.
Observe-se que toda vez que o governo anuncia queda na arrecadação, declara, simultaneamente, que essa queda se deve à redução dos impostos. Mentira! Concomitantemente, o governo afirma que, apesar da queda de arrecadação, Lula determinou que não se cortassem gastos sociais nem cancelassem os aumentos do funcionalismo. Como Lula é bonzinho não?
Ontem o IPEA divulgou estudo mostrando que os pobres brasileiros trabalham o dobro dos ricos para pagar impostos no Brasil. Logo, vamos reduzir os impostos para aliviar a vida dos pobres, certo? Errado! Na ótica do IPEA, esse é mais um argumento a favor da volta das alíquotas anteriores à crise.
A “tese” de Lula, segundo quem é preferível o governo distribuir esmola ao povo do que reduzir impostos, não tem o menor fundamento técnico, apesar de parecer lógico ao senso comum. Vamos conferir?
Porque o governo precisou reduzir impostos? Para reduzir os preços e aumentar as vendas. Certo?
Pois bem, isso significa dizer que, se os impostos não fossem reduzidos, as vendas não aconteceriam. Se as vendas não acontecessem, a arrecadação de impostos incidentes sobre essas vendas não aconteceria. Logo, a queda da arrecadação aconteceu por causa da recessão e das restrições ao crédito e não por causa da redução das alíquotas incidentes sobre os produtos beneficiados com a medida do governo.
Pelo contrário, ao incentivar as vendas com a redução dos impostos, o governo minimizou a perda que teria com a queda de arrecadação, pois conseguiu arrecadar algo sobre vendas que ocorreram, e não aconteceriam não fosse a redução de impostos. Simples!
Traduzindo do lulês para o português: Faz todo o sentido, sob a ótica política de Lula, que Lula pense que sabe, melhor do que eu e você, como gastar o meu e o seu dinheiro. Pessoalmente, também ficaria muito feliz se Lula e você me dessem 40% do que ganham para que eu gastasse como acho melhor.
Sim, é isso que está por trás do interesse “altruísta” dos políticos pelo poder. Você jamais ouvirá um político pedir votos afirmando que quer ser eleito porque sabe gastar seu dinheiro melhor do que você. O discurso dos políticos, quando pedem votos, sempre aparecerá sob a forma que Lula adota com a esperteza que lhe é peculiar: “Vote em mim porque eu prefiro dar dinheiro aos pobres a reduzir os impostos dos ricos.”
Lula, e todos os governantes, distribuem dinheiro que tiram da carteira alheia. Da nossa carteira! De fato, o que os políticos disputam quando pedem os nossos votos, é o poder de gastar o nosso dinheiro segundo seus critérios sobre o que seria bom para nós. No Brasil, entregamos ao Estado 40% de toda riqueza que geramos com nosso trabalho.
Sarney, por exemplo, acha que a melhor maneira de gastar a parcela que ele administra desse dinheiro que o governo nos toma, é empregando seus parentes no Senado da República.
Reflita comigo, caro leitor. Com exceção de Daniel Dantas, que ficava com uma robusta parcela do nosso dinheiro em função dos esquemas que montou junto ao governo anterior, do PSDB e do ex-PFL, qual é o grande empresário ou banqueiro brasileiro cujo interesse Lula estaria contrariando?
Por acaso você está vendo algum banqueiro; grande proprietário de terras, grande industrial ou grande comerciante reclamando dos lucros que estão obtendo sob o governo do nosso presidente operário e socialista?
Felizmente, não. Os ricos, quando ganham dinheiro, investem; empregam gente nas suas empresas e pagam impostos. Ou seja, distribuem renda.
Felizmente Lula não botou em prática as idéias que o PT defendia até 2002 e graças aos lucros dos bancos; das empresas e do agronegócio, que só se tornaram possíveis devido à continuidade da política econômica originada no governo FHC, nós brasileiros experimentamos a prosperidade que Lula reivindica ser obra exclusivamente sua.
Se os ricos estão satisfeitos com Lula, isso significa que os ricos acham que Lula faz bem em proporcionar-lhes os lucros inigualáveis que obtiveram e obtêm graças à política econômica “de Lula”. Ou seja, eles estão satisfeitos com a forma como Lula gasta nosso dinheiro, destinando muito mais à prosperidade dos negócios dos capitalistas que geram empregos, do que às migalhas que Lula distribui aos pobres desempregados em troca de seus votos.
A melhor maneira de distribuir riqueza e diminuir a pobreza num país que toma 40% do dinheiro do povo em impostos é deixar mais dinheiro no bolso do povo; reduzindo impostos. Se, como comprova o IPEA, os pobres trabalham o dobro do que os ricos para pagar impostos no Brasil, toda a vez que o governo reduz os impostos, faz um benefício aos pobres, muito maior do que distribuindo esmola governamental aos desempregados.
Ao reduzir impostos o governo proporcionou a redução dos preços e o aumento das vendas. Com o aumento da vendas, proporcionou a recontratação de parte dos trabalhadores demitidos em função da crise. Trabalhadores empregados recebem salários que usam para comprar os produtos barateados com a redução dos impostos. Com o aumento das vendas o governo recupera a arrecadação que não teria se não tivesse reduzido os impostos.
Presidente Lula; não dê ouvidos ao Mantega e ao Márcio Pochman. Muito menos dê ouvidos aos burocratas da Fazenda Pública. Siga sua intuição. Use a mesma intuição que o levou a abandonar a aventura autoritária do terceiro mandato e continue reduzindo impostos. Comportadinho assim o senhor termina até elegendo a Dilma.