Quem decide a necessidade das alianças são os eleitores. No nosso sistema presidencialista com um parlamento forte, mesmo com as medidas provisórias (MPs), são os eleitores que votam no presidente, de forma desvinculada dos votos para o Senado e para a Câmara dos Deputados.
Via de regra, eles elegem um presidente, mas não dão maioria a seu partido. Se tivéssemos um sistema parlamentarista, o partido majoritário formaria o governo e indicaria seu chefe, o primeiro-ministro. Aí, o presidente eleito pelo voto ou pelo parlamento é o chefe de Estado e o primeiro-ministro o chefe do governo.
Mesmo nesse sistema, os partidos são obrigados a coalizões e alianças para formar e manter o governo e o voto de confiança do parlamento, já que podem ser o mais votado, mas não ter maioria dos votos (50% mais 1), o que seguramente aconteceria no Brasil se aqui fosse adotado. No nosso país, o parlamentarismo já foi rejeitado duas vezes, em 1963 e 1993, por 2/3 dos cidadãos eleitores. Apesar disso, as alianças eleitorais e parlamentares e as coalizões de governo não são (ou não devem ser) apenas somas de partidos. Elas representam a junção de interesses e programas, de objetivos setoriais, locais, regionais e nacionais, e a soma de lideranças fortes e representativas.
Na verdade, as alianças são uma garantia para a sociedade de que determinado programa será cumprido, já que os partidos por mais fracos e representativos que sejam, ou ainda que programáticos e fortes, expressam interesses de setores e classes sociais, os anseios e visões destes sobre e do país. Muitas vezes, são feitas alianças entre partidos sem afinidades, como no caso da luta contra o regime militar na campanha das Diretas Já em que o PT e o PC do B, por exemplo, se aliaram ao PFL para por fim à ditadura e garantir a transição democrática.
Em momentos de crise ou de reformas, como é o caso desta reforma política, os partidos de esquerda e direita se unem em torno de objetivos comuns, sem que isso signifique que são iguais ou vão governar juntos, a não ser em casos extremos de guerra ou de grandes desastres nacionais, como aconteceu na Europa e mesmo na China pré- revolucionária. Não só partidos se comportam assim. Governos e povos também, como se viu com a aliança entre a URSS, Grã Bretanha, Estados Unidos e França para derrotar o nazifascismo durante a Segunda Guerra Mundial.
Nesse momento, o PT busca manter a aliança que reelegeu Lula em 2006 com o PC do B, PSB e PR, além do PMDB e PDT, sem desconsiderar três outros partidos que compõem a base do governo, PV, PP e o PTB. Essa aliança se faz necessária não só para dar continuidade ao projeto político que levou Lula à presidência, mas para governar agora, e depois formar maioria parlamentar, compondo o governo com essas legendas para implementar o programa apresentado e aprovado pelo eleitorado.
A sucessão de Lula como está se apresentando ao país, depende do próprio Lula, de sua popularidade, e do voto do PT (legenda mais votada no país) e das alianças para eleger a candidata do presidente e (do partido), Dilma Rousseff. Afinal, o PT sozinho, mesmo com a força de Lula, não teria os votos para vencer e governar. Depende, portanto, do apoio dos partidos historicamente a ele ligados (PSB – PC do B – PDT) e do PMDB, além do PR que indicou por duas vezes o vice-presidente da República.
Como o apoio ao Presidente e ao PT forte no Norte e no Nordeste e Norte do país, e a disputa pode ser equilibrada no Sul e no Centro Oeste, a eleição pode ser decidida no Sudeste, mais precisamente em Minas e no Rio. Daí a necessidade de se consolidar as alianças com o PMDB, principalmente nesses dois Estados, além da Bahia, Ceará, Pará, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Maranhão, Piauí, Amazonas, Rondônia, Roraima, Espírito Santo, Sergipe, Rio Grande do Norte, e Amapá.
Pelo quadro que se tem hoje, em São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Acre, Paraíba, Alagoas, Tocantins, e Brasília, ou não será possível fechar essa aliança; ou vamos disputar as bases do PMDB; ou teremos um meio acordo de não beligerância na expectativa do 2º turno.
Com o PSB, nossa aliança passa sem problemas em Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, Estados governados pelos socialistas em aliança com o PT. Com eles podemos construir acordo na Paraíba, Amapá e nos demais Estados ou não, sem prejuízo da aliança nacional. O mesmo ocorre com o PC do B, PDT, PR.
O importante, então, é o PT priorizar a questão nacional na composição das chapas e palanques nos Estados, como decidiu o Diretório Nacional do partido ao adiar os encontros e prévias para depois de fevereiro de 2010. Aí o programa e a candidata estarão escolhidos e a política de aliança reafirmada, dando tempo ao presidente, à direção partidária e à postulante ao Planalto para construir as alianças indispensáveis a vitória e ao governo.
José Dirceu é ex-ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República