Carlos Augusto Montenegro, diretor do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), botafoguense fanático – foi até presidente do seu time – tem feito análises sobre a sucessão presidencial em 2010, que tem sido publicadas, mas que absolutamente não me convencem.
Já o contestei no meu blog e vou fazê-lo também, aqui, nessa espaço que o Ricardo Noblat gentilmente me concede todas as semanas. Vou contestar o Montenegro como um flamenguista, time pelo qual torci na infância ainda em minha cidade natal, Passa Quatro, nas Minas Gerais. E analisar ponto por ponto suas previsões e também avisá-lo que, pelas minhas, o Flamengo derrota o Botafogo e se sagra mais uma vez campeão.
Espero não errar em nenhuma das duas previsões, nem quanto a Serra-Dilma, nem quanto à vitória do Flamengo sobre o Botafogo.
Montenegro diz que na disputa pelo Palácio do Planalto no ano que vem, para a ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff, ou para qualquer outro candidato petista, será difícil conquistar cada ponto depois que passar do patamar de 15%, teto de transferência do presidente Lula e do PT.
Pode ser difícil, mas temos condições de ultrapassar isso sim e chegar até os 25%. Vejam, só o PT tem 17% da preferência do eleitorado nas pesquisas para a Câmara dos Deputados. Lula pode ter até 50% dos votos. Tem, no mínimo, mais de 40%, e nada nos impede de conquistar isso com a Dilma, já que ela é candidata de Lula, do governo e do partido. Não há dúvidas de que o clima no país sustenta essa previsão porque o governo e o partido tem atos, ação governamental e realizações para isso.
Concordo com o Montenegro quando ele diz que dificilmente a ex-senadora Heloisa Helena, hoje vereadora do PSOL em Maceió (AL) e o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) teriam espaço para crescer e que Ciro Gomes só seria candidato com apoio de Lula. Analisar o fator Ciro é um pouco mais complexo porque, veja, aí os palanques estaduais do PSB para eleger e reeleger governadores, senadores e deputados, além das afinidades políticas e de programa, é que levam seu partido a uma aliança com o PT e Lula, e o apoio dos socialistas à candidatura de Dilma Rousseff.
Também a previsão do Montenegro de que o governador de São Paulo, José Serra, um dos pré-presidenciáveis tucanos é favorito e pode vencer no 1º turno, não convence. Por que o país iria mudar de rumo, entregar o governo de novo para os tucanos, para o Serra? Ser favorito nas pesquisas agora, abril de 2009, não quer dizer nada. Lula o era nesse mesmo mês em 1994 e o plano real e a candidatura FHC, além dos erros do PT, mudaram tudo.
Serra pode ser o favorito, mas ganhar no 1º turno, acho improvável. Diria mesmo, com base na análise do quadro hoje, e em precedentes, impossível. Do jeito que o Montenegro fala, é como se não existisse a crise e a luta política, como se Lula não fizesse a diferença e o PT, as alianças, os palanques não contassem. É como se a população, o eleitorado não fosse comparar os oito anos tucanos aos oito de Lula.
Montenegro compara 2010 a 2002 – naquele ano era a vez de Lula, no ano que vem, a de Serra, diz o diretor do IBOPE. Esquece que Lula podia ter perdido as eleições, o que não aconteceu por vários fatores, tais como a própria campanha, as alianças, as respostas durante o embate eleitoral, etc. Para Montenegro, a crise de 2005, o chamado mensalão, encerrou a “Era PT” e no PSDB resta ao outro pré-presidenciável tucano, o governador mineiro, Aécio Neves, apenas escolher entre ser vice de Serra ou senador por Minas.
Para concluir: da parte do diretor do IBOPE, eu vejo muita certeza e pouca explicação. Como Lula se reelegeu em 2006 e o PT foi o partido mais votado para a Câmara dos Deputados, ainda que eu não subestime os efeitos daquela crise, é evidente que tanto Lula como o PT tem força agora para levar o pleito do ano que vem para o 2º turno sim. Evidentemente fazendo política bem e levando em conta dois pontos da realidade – a força da candidatura Serra e, principalmente, sem medo de fazer as alianças regionais que levem à construção de palanques fortes nos Estados.
Ao opinar sobre dados e pesquisas, Montenegro precisa levar em conta, também, o fator político, que ele tão bem conhece e, particularmente, a atuação dos tucanos e demos, suas propostas e alianças. Não pode desconsiderar a força de Lula, que não tem comparação com a situação de FHC em 2002. Fernando Henrique naquele ano não fez campanha para Serra, não porque não quisesse que o companheiro ganhasse, mas porque não tinha condições políticas. Seu governo era rejeitado. Ou seja, era o oposto de Lula que, como o próprio Montenegro afirma, sairá festejado do governo, popular, e nos braços do povo. E aí, em suas análises, é exatamente isso que Montenegro se esquece de acrescentar: que o presidente fará de tudo para eleger sua sucessora, inclusive comandando uma campanha como se fosse para ele próprio se eleger.
José Dirceu é ex-ministro da Casa Civil