O quadro sucessório
Ao longo de 2009, muito foi dito e projetado para as eleições de outubro deste ano à Presidência da República.
Chegamos até a ler o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, a prever, um ano antes da votação, a derrota da ministra Dilma Rousseff.
Pois bem. Faltando sete meses do pleito, quando ainda há muita coisa para acontecer, o quadro é completamente diferente.
A semana começou com a pesquisa Datafolha mostrando a queda vertiginosa, em apenas dois meses, da diferença entre o tucano José Serra e Dilma de 14 para 4 pontos percentuais, um empate técnico, a se considerar a margem de erro de dois pontos.
Segundo o Datafolha, Serra tem hoje 32% e Dilma está com 28% no cenário mais provável, com o deputado Ciro Gomes figurando com 12% e Marina registrando 8%.
Em relação à pesquisa anterior, Serra perdeu 5 pontos, enquanto Dilma ganhou 5, ou seja, o tucano começa a perder votos diretamente para nossa candidata.
Na pesquisa de segundo turno, há também empate técnico, pois Serra cai e fica com 45% enquanto Dilma sobe e já está com 41%. Na pergunta espontânea, Dilma tem 10%, Lula -que não é candidato- os mesmos 10%, Serra 7% e “o candidato do Lula” 4%.
Os números do Datafolha abalaram o já conturbado ambiente da oposição.
Primeiro porque mostra que Lula está transferindo sua popularidade para Dilma, o que era esperado, já que a ministra está desde o início do Governo, em 2003, e gerencia programas importantes como o Bolsa Família, o “Minha Casa, Minha Vida”, o “Luz para Todos”, o Pré-Sal e o PAC.
É cada vez mais claro que Dilma é a candidata que significa a continuidade do bom Governo Lula.
Mas o temor da oposição é também a ausência de um programa alternativo para o Brasil.
Serra é a cara da gestão Fernando Henrique Cardoso, por isso, não tem como defender as escolhas bem-sucedidas do Governo Lula, pois sempre defendeu o contrário.
Para completar, em São Paulo, Estado mais desenvolvido do país, as coisas vão mal, a começar pela capital, que Serra deixou nas mãos de seu pupilo Gilberto Kassab.
Nem a Educação e a Segurança orgulham mais os paulistas. O retrato da cidade é o trânsito caótico e o estado de calamidade pública por conta das já esperadas chuvas, consequências da ausência de políticas preventivas e da desarticulação da Defesa Civil.
Além de não ter propostas para o país, o tucano parece enfrentar grandes problemas internos, a começar por sua indefinição.
Todos sabem que ele será o candidato do PSDB, mas ele não admite de forma oficial. Enquanto isso, nos bastidores, pressiona o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, a aceitar ser candidato a vice.
A pressão sobre Aécio tem sido tão forte que o mineiro se sente acossado.
Aécio já avisou que não vai ser vice de jeito nenhum e que não se sente responsável por uma eventual derrota de Serra, pois foi o governador de São Paulo e a cúpula paulista do tucanato que evitaram a prévia e o debate programático.
O resultado foi o constrangimento que Serra passou em Minas nesta quinta-feira (4/3).
Sem programa, sem administração boa para defender, sem ambiente interno para dar sustentação, Serra não tem também alianças fortes nos Estados para lhe dar palanques importantes.
Até agora, pode contar apenas com Yeda Crusius, campeã de denúncias no Rio Grande do Sul, e com Alberto Fraga, nome do governador afastado do Distrito Federal José Roberto Arruda, ambos do DEM.
No Rio de Janeiro, os tucanos estão em crise com o PV, que não quer apoiar o nome de Cesar Maia (DEM) para o Senado.
Em Santa Catarina, o nome do PSDB é o vice-governador, Leonel Pavan, também envolvido em denúncias de corrupção.
Nem em São Paulo, berço da candidatura Serra, a situação está tranquila: Geraldo Alckmin não é o preferido de Serra, que quer fazer seu secretário Aloysio Nunes Ferreira o candidato ao governo.
Há ainda muita água para correr neste rio das eleições, mas, hoje, felizmente, a população brasileira dá sinais claros de que estamos no caminho certo e de que não quer Serra, PSDB, FHC e DEM de novo.
José Dirceu, 63, é advogado e ex-ministro da Casa Civil
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